TratamentoEquipe multidisciplinar: A constituição de uma equipe de tratamento, com a participação de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, acupunturistas, assistentes sociais, é um ponto de partida. Todos os membros da equipe devem ter uma capacitação específica sobre LER/DORT. A articulação com a rede de serviços, identificando experiências de grupos que possam desenvolver um trabalho interinstitucional pode ser uma alternativa naquelas localidades onde não se viabiliza uma equipe completa no serviço de atenção à saúde do trabalhador. Parcerias com universidades, rede ambulatorial própria ou conveniada, centros de reabilitação, estabelecendo a referência e contra-referência pode ser fundamental para viabilizar uma abordagem terapêutica. Quem é e como está o paciente a ser tratado? · Quais podem ser seus sintomas? Sensação de peso e fadiga, dor, alodínea (sensação de dor como resposta a estímulos que em princípio não deveriam gerá-la), sensação de edema, sensação de enrijecimento muscular, choque, dormência, formigamento, caimbras, falta de firmeza nas mãos, sensação de fraqueza muscular, sensação de frio ou calor, limitação de movimentos, dificuldade para dormir, acometimento psicológico: frustração, medo do futuro, ansiedade, irritação, raiva de seu estado de incapacidade, sentimento de culpa por estar doente. · Quais podem ser suas incapacidades e limitações? Diminuição da agilidade dos dedos, dificuldade para pegar ou segurar pequenos objetos, em permanecer sentado por muito tempo, para manter os MMSS elevados ou suspensos, para estender roupas, para escrever, para segurar o telefone, para carregar pequenos pesos, falta de firmeza para segurar objetos, limitações para atividades de higiene pessoal, dificuldade para cuidar de crianças, dificuldades para atividades domésticas em geral. · Quais podem ser as situações enfrentadas? Resistência em aceitar que está com LER/DORT e medo de ter o problema; situação de marginalização por parte da empresa, colegas e amigos; dificuldade de ter Comunicação de Acidente de Trabalho emitida; dificuldade de conseguir mudanças de função/atividade, mesmo quando indicado pelo médico; dificuldade de reconhecimento do nexo causal pela Previdência Social; afastamento do trabalho por tempo prolongado; dificuldade de encontrar tratamento adequado; dificuldades financeiras; mudança de papel social no trabalho, mudança de papel na família e círculo social, com perda de sua identidade, construída ao longo da vida; “síndrome” do afastamento, com acomodação a um novo tipo de vida; poucas possibilidades de reabilitação profissional; retorno ao posto doente; enfrentamento da inexistência de uma política de mudanças na empresa; medo e possibilidades de demissão; dificuldade de reinserção no mercado de trabalho. Afinal, o que é dor? Como explicar a resistência a vários tratamentos? É fundamental entender a fisiopatologia da dor nos pacientes com LER/DORT. Isto ajudará a equipe de tratamento a entender: · por que estímulos a princípio inofensivos provocam a dor no paciente com LER/DORT? · por que, apesar do afastamento do trabalho, o paciente mantém crises de dor? · por que técnicas convencionais de tratamento de processos inflamatórios dão poucos resultados? · Estabelecer os objetivos gerais e específicos do tratamento e reabilitação para cada caso, entendendo que esses dois processos devem se dar concomitantemente. · Essas metas devem ser de conhecimento do paciente, pois do contrário, pequenas conquistas não serão valorizadas, na expectativa de curas radicais e imediatas. Cada passo conquistado deve ser ressaltado e devidamente valorizado. · Não há dicotomia e nem divisão precisa entre o tratamento e a reabilitação, e nem entre a parte física e a parte psicológica, já que uma repercute na outra. · Apesar de cada profissional da equipe desenvolver atividades terapêuticas específicas, deve haver uma unidade nos objetivos gerais e no conceito de tratamento e reabilitação. Deve haver uma dinâmica interdisciplinar, com trocas constantes de opiniões sobre a evolução de cada paciente. · Todos têm responsabilidades específicas e gerais. Entre as gerais, está a de ouvir o paciente, que não é função específica do psicólogo, mas de todos os membros da equipe. Todos são importantes no tratamento e reabilitação. · Objetivos do tratamento e reabilitação: a) Orientar, com base no exposto que a abordagem multidisciplinar visa orientar, instrumentalizar, informar o paciente de sua condição e contexto para que ele aprenda a administrar sua vida, limites, conflitos. b) Dar informações sobre as LER/DORT, para que o paciente possa ter um papel ativo no processo de sua recuperação. Se ele se colocar passivamente, à espera de procedimentos milagrosos, não haverá êxito. É preciso uma comunhão de interesses positivos por parte da equipe e do paciente. c) Diminuir a procura por assistência “desqualificada”. Como se trata de um paciente com problema crônico, na maioria das vezes, ele mesmo poderá controlar sua crise, seja com manobras simples, ou com medicação adequada. d) Propiciar emancipação e autonomia do paciente em relação ao tratamento, escolhendo junto com ele técnicas e formas de controlar ou eliminar a dor e outros sintomas, seja nas crises ou no dia-a-dia. e) Construir conhecimento sobre a doença a partir da experiência do paciente e dos achados de literatura a respeito. f) Discutir as repercussões das LER/DORT no cotidiano do paciente e construir formas de enfrentamento para lidar com a realidade e as limitações que a doença impõe. g) Construir junto com o paciente um rol de atividades da vida diária que devem ser evitadas e realizadas de maneira diferente, para que não agravem o quadro clínico. h) Possibilitar a resignificação da doença, ou seja, possibilitar uma reflexão sobre seus determinantes, estabelecendo o nexo com o trabalho e desmistificando idéias errôneas, tais como: as LER/DORT são decorrentes de traços psicológicas e ocorreram por causa de determinadas características pessoais que promoveram o adoecimento e não porque as condições laborais ofereciam riscos. Este ponto é importante para que o paciente não se culpabilize por ter adoecido e para que consiga ter um papel ativo no processo de reabilitação. Esclarecer o papel das condições de trabalho no processo de adoecimento é fundamental para construção da viabilidade das mudanças nos locais de trabalho. i) Propiciar a manifestação e a apropriação pelo paciente, dos sentimentos e emoções relacionados com as LER/DORT, esmiuçando-os, porém construindo reações que o auxiliem a superar a problemática afetiva. j) Possibilitar ao paciente diminuir a ansiedade, angústia e depressão no seu cotidiano. k) Aumentar gradativamente a capacidade laboral. l) Aumentar gradativamente a capacidade para atividades rotineiras. m) Instrumentalizar o paciente para a volta ao trabalho: ajudá-lo a vencer o medo e a insegurança. n) Diminuir ou retirar a medicação de base. o) Propiciar o auto-conhecimento e estabelecimento de seus limites. p) Possibilitar ao paciente conviver com a dor crônica, com as menores restrições possíveis. Para tentar alcançar esses objetivos, podem ser desenvolvidas atividades de diversas naturezas. Alguns serviços da rede pública de saúde desenvolvem programas de tratamento e reabilitação, com atividades e técnicas variadas, porém sempre com o objetivo de recuperar a pessoa como um todo, reconstruindo modos de trabalhar e viver. Nem sempre, as atividades em si têm um objetivo específico, mas o objetivo geral de propiciar mudanças de postura em relação à atenção ao corpo e seus limites, assim como o incentivo ao auto-cuidado (SETTIMI e col., 1998). Exemplos de atividades desenvolvidas: · Núcleo Informativo: sessões em grupo, acopladas ao trabalho corporal, de informações sobre anatomia e fisiologia do sistema músculo-esquelético, fisiopatologia das LER/DORT, atividades de vida diária, noções de limite, questões trabalhistas e previdenciárias, visando instrumentalizar o paciente no enfrentamento de seu cotidiano e diminuir suas angústias e dúvidas. · Sessões informativo-terapêuticas: sessões em grupo com abordagem dos aspectos psicossociais, com o objetivo de instrumentalizar o paciente a superar dificuldades rotineiras. · Sessões psicoterapêuticas: oficinas terapêutico-pedagógicas em grupos. · Trabalho Corporal: técnicas variadas de relaxamento, alongamento, auto-massagem e fortalecimento muscular/ correção de postura. · Ambulatório de Fisioterapia (eletrotermoterapia, massoterapia, cinesioterapia) · Ambulatório de acupuntura · Tratamento medicamentoso · Bloqueios anestésicos, para casos específicos · Estímulo a atividades lúdico-sociais · Condicionamento físico · Terapia ocupacional · Homeopatia Atividades como as acima citadas e outras, devem ser combinadas entre si. Devem ser indicadas dependendo de cada caso e sempre se respeitando os limites de cada pessoa. Nenhuma delas é milagrosa e não é eficaz isoladamente.
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