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SEXO MENTAL
No momento em que uma mulher grávida faz uma ultra-sonografia e descobre o sexo de seu bebê, ou quando ele nasce, tem início um processo inexorável de domesticação do bebê que vai se prolongar até ele se tornar um adulto, colocando no mundo mais um ser humano candidato a conviver com profundos e infindáveis conflitos interiores.
Começa pela compra ou confecção de suas roupinhas que serão azuis se for menino e rosas se for menina. Claro que nem todas as mães agirão dessa maneira, o que quero mostrar é que ele começa sua vida recebendo uma gama imensa de preconceitos que paulatinamente vão se fixando em seu psiquismo. Se for menino usará calças, se for menina, usará saias. Para vir a ser um verdadeiro homem terá que aprender a viver os papéis de valente, ativo, guerreiro, lutador, dominador, forte, terá que dominar seus sentimentos, ser um vencedor, ser racional, etc. Poderíamos fazer uma lista interminável de atributos que irão se constituir numa espécie de sexo mental desejável para aquele que apresentar as características biológicas do sexo masculino. Para a mulher, não deverá apresentar aquilo que se estabeleceu para o homem, deverá aprender a representar o papel de passiva, frágil, receptiva, sentimental, submissa, etc.
Acreditamos erroneamente que essa é a melhor e única maneira de criar e desenvolver nossas identidades.
Nossos ancestrais foram estabelecendo características psicológicas para os dois sexos biológicos. Assim, tanto o homem quanto a mulher precisam ser construídos, educados e domesticados para uma ou outra função. São condicionados a eternamente viverem os papéis que lhes foram atribuídos, tornando-se atores inconscientes, por toda a vida.
Por isso, cada um de nós, passa a acreditar que sexo engloba numa só coisa: suas características físicas e aquilo que lhe foi ensinado do que deva ser um homem ou uma mulher, no que respeita a atitudes, modos de agir, modos de pensar. Aspectos e potencialidades mentais que nada tem a haver com sexo. Atividade e passividade tem sexo? Qual é o sexo da ternura ou da dominação? Alguns dão tanto valor ao sexo mental, que chegam a negar seu sexo biológico evidente e passam a acreditar que são homossexuais.
Só esse fato simples e evidente pode ser visto como causador de muita homossexualidade, irreal e desnecessária.
Quando uma mãe diz: menina, não abra as pernas ao sentar! Ou quando um pai diz: menino, é preciso ser forte! O que estão fazendo, educando ou causando futuros conflitos? Na verdade, estão pondo lenha na fogueira da eterna guerra entre os sexos.
Creio estar, nessa atitude arraigada e generalizada de pensar que deva existir um sexo mental, uma das raízes mais importantes de uma gama enorme de problemas humanos.
Por outro lado, é muito difícil aceitar que não deva ser assim, que possa ser de outra forma. Que aconteceria se meninos e meninas fossem educados da mesma maneira, criando-se condições para que desabrochassem neles todas as potencialidades consideradas arbitrariamente de um ou do outro sexo físico? Ninguém quer nem pensar nisso, Deus me livre, será o caos! Penso que seria o melhor passo a ser dado pela humanidade. Nossos filhos teriam oportunidade de se desenvolverem como pessoas mais completas, mais equilibradas, mais sãs, mais perfeitas e mais capazes. Seriam também fortemente rejeitados por aqueles que se dizem "normais". O medo da rejeição é um dos fatores que fazem com que todo mundo siga o que foi estabelecido. Mesmo que se prejudicando, todos querem ser normais, aceitos pelos grupos em que convivem.
O que fazemos, com esse tipo de educação, na verdade, é criar um divórcio entre seus hemisférios cerebrais esquerdo e direito, onde se localizam exatamente as funções que errada e arbitrariamente atribuímos ao homem e à mulher. O homem será condicionado a usar mais o seu hemisfério esquerdo em detrimento do direito e a mulher será condicionada a usar mais o seu hemisfério direito em detrimento do esquerdo. A falta de uso que se origina pela repressão conduzirá inevitavelmente a uma separação entre eles.
Por outro lado, tendo em vista que o inconsciente do homem é representado pelo seu aspecto feminino, sua anima, todas suas potencialidades positivas falsamente consideradas femininas serão reprimidas e lá sepultadas. O inverso acontecerá com a mulher em relação a seu animus.
Assim ambos serão criaturas mutiladas, porque foram treinadas para reprimir potencialidades positivas e maravilhosas junto com algumas negativas.
Os movimentos de liberação da mulher têm resultado, atualmente, no fato de que a mulher está aprendendo a representar papéis masculinos e o homem está aprendendo a representar papéis femininos. Mudar papéis poderá resultar numa atenuação de alguns problemas, mas os conflitos gerados pelos papéis considerados masculinos e femininos continuarão, mudarão apenas de lugar. A guerra dos sexos, as dissenções derivadas do modo de ver masculino e do modo de ver feminino, continuarão eternamente, tanto como uma realidade externa, no dia a dia de ambos, bem como no interior de cada um deles, onde uma mulher e um homem psíquicos realizarão a mesma guerra, viverão eternos conflitos.
Toda discriminação sexual, religiosa, racial, social ou étnica deriva desses falsos valores que definem e passam a identificar homens e mulheres. Todos os complexos de culpa, de inferioridade, de vencer a qualquer custo, de superioridade, da mesma maneira. Todas as guerras e doenças. Todas as desigualdades sociais, econômicas e culturais.
A excessiva valorização que através dos séculos, se deu aos aspectos masculinos do homem, razão em detrimento de emoção, hemisfério esquerdo em detrimento do direito, resultou na construção do "belíssimo" mundo que temos hoje, fruto do que se convencionou chamar sociedade patriarcal.
Todos são unânimes em pensar que o mundo precisa mudar, que a humanidade precisa ser transformada, que o homem precisa mudar, mas ninguém admite que o primeiro a ser reformulado é ele mesmo.
Todos aprenderam bem a viver um papel singular que lhes foi imposto: o de sempre ter esperança, fez-se até da Esperança uma virtude. Esperança, espera que paralisa, esperar que apareça alguém que resolva o problema. Espera-se que um Messias, um governo, uma ong., uma religião, uma forma política ou a ciência, resolvam os problemas com que a humanidade convive. Nunca resolveram, nem nunca resolverão enquanto cada um não se convencer que o único problema a ser resolvido está dentro dele mesmo. E é o primeiro que tem que ser resolvido, imediatamente, sem espera.
Só e quando cada habitante do planeta acabar com seus conflitos interiores, poderão acabar os conflitos exteriores e poderá nascer uma nova humanidade mais saudável.
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