Cammile
Flammarion Sua obra e suas convicções influenciaram a geração que sucedeu ao codificador, na França e no Brasil, e tornaram-se a base da Metapsíquica nascente. As obras sobre a vida de Flammarion são raras. Na nossa língua encontramos pequenas biografias de poucas páginas, há algumas resenhas sobre seus livros de temática espírita na "Revue Spirite" publicada por Allan Kardec, seu discurso no túmulo de Allan Kardec, publicado pela FEB em "Obras Póstumas" e os dados biográficos inseridos nos três livros "Allan Kardec" de Zêus Wantuil. As principais
fontes deste trabalho, entretanto, devemos à gentileza de Alexandre
Rocha, e são o livro autobiográfico "Memórias Biográficas e Filosóficas
de um Astrónomo", escrito no início do século XX, onde Flammarion relata
sua infância, seu contacto com o Espiritismo, suas actividades e
produção relativas à astronomia. Outro documento também relevante foi um
fragmento de um discurso pronunciado por Flammarion em 1923, na British
Society for Psychical Research. Desde o nascimento os pais (especialmente a mãe) reservaram-lhe um "destino intelectual". A mãe não deixava que o pequeno Nicolas brincasse com as crianças do povo. Aos quatro anos ele lia, aos quatro anos e meio escrevia, aos cinco anos iniciava os estudos de gramática e aritmética e aos seis iniciava-se na escola, onde escrevia com penas de pato. Aos nove anos de idade, Flammarion iniciou seus estudos de latim. Realizou seus estudos clássicos na cidade de Langres, numa escola católica que foi responsável por seus sólidos conhecimentos em humanidades. Após uma epidemia de cólera, os seus pais passaram dificuldades financeiras e foram para Paris. Flammarion mudou-se em Setembro de 1856. Para se manter ele trabalhou como auxiliar de gravador e passou a estudar na Associação Politécnica de Paris em cursos gratuitos, onde aprendeu melhor as matemáticas que eram pouco enfatizadas no seu curso clássico. Ele trabalhava cerva 15 a 16 horas diariamente. Aos domingos Flammarion estudava as disciplinas que despertavam seu interesse, como a frenologia, a fisiognomia e os sistemas de Laváter, Gall e Spurzheim. O seu interesse
pelos livros veio desde os tenros anos da infância. Aos oito anos
Flammarion já possuía uma biblioteca de 50 volumes. Com este livro em mãos, o jovem ganhou coragem e apresentou-se no Observatório de Paris, à época dirigido por Le Verrier, o astrónomo que houvera descoberto Netuno sem instrumentos, apenas usando cálculo. Após ser entrevistado e avaliado foi aceito como aluno-astrónomo. Entre os tipos de actividades que realizou, Flammarion mediu estrelas duplas e realizou cálculo de suas órbitas, estudou a direcção das correntes aéreas, fez estudos higrométricos do ar, analisou a rotação de corpos celestes, confeccionou mapas de Marte e escreveu trabalhos sobre a constituição física da Lua. Analisemos suas publicações científicas e jornalísticas. O seu primeiro livro publicado foi "Pluralidade dos Mundos Habitados" (1861), seguido-se "Viagem extática às regiões lunares", "Os mundos imaginários e os mundos reais" (1865), "As maravilhas celestes" (obra popular de divulgação da astronomia), "Estudos e leituras sobre astronomia" (1867), "Viagens aéreas" (1867), "Galerie Astronomique" (1867), "Contemplações científicas" (colectânea de escritos publicados nas revistas "Siècle", "Magasin pittoresque" e "Cosmos" - 1870), "A atmosfera" (1871), "Astronomia Popular" (1880), "O mundo antes da criação do homem" (1885), "Os cometas, as estrelas e os planetas" (1886), "Astronomia para amadores" (1904) e "Raio e trovão" (1906). Em "Pluralidade dos Mundos Habitados" trata do sistema solar, realiza um estudo comparativo dos planetas, discute a fisiologia dos seres a fim de abordar a questão da habitabilidade, trata de habitantes de outros mundos e da pluralidade dos mundos ante o dogma cristão. Kardec resenha este livro na Revista Espírita, ressalvando que apesar de não se tratar de livro espírita, trata de assunto que envolve uma temática tratada pelos espíritos e de um autor que então era membro da Sociedade Espírita de Paris. São muitas as revistas que receberam suas contribuições. Em Junho de 1863, tornou-se redactor científico da revista "Cosmos", contribui nas revistas "Siècle", "Magasin Pittoresque" e funda, em 1882, a revista "L"Astronomie". Esta última revista continua sendo editada. O Observatório de Juvisy foi fundado por Flammarion em 1883, onde passou a realizar seus trabalhos nas áreas de astronomia, climatologia e meteorologia. Quatro anos depois, ele tornou-se o fundador da Sociedade Astronómica da França (Société Astronomique de France), com o objectivo de "difundir as Ciências do Universo e fazer os amadores participarem do seu progresso", que continua vigente até os dias de hoje. Entre outras honrarias e prémios, a Sociedade concede anualmente a "Plaquette du centenaire de Camille Flammarion", que é uma medalha de prata e o prémio "Gabrielle et Camille Flammarion" para trabalhos e pesquisadores que se destacam. A Academia Francesa concedeu a Flammarion o prémio Montyon, em 1880, por seu livro "Astronomia Popular". Este foi um entre muitos. Nas suas memórias, o astrónomo enumera o prémio "Ruban Violet" de oficial da instrução pública, a Grande Ordem da Cruz de Isabella Católica e a "Cruz da Grande Ordem de Carlos III", oferecidos pelo governo espanhol. D. Pedro II, imperador do Brasil, foi pessoalmente ao observatório de Juvisy entregar-lhe a comenda da "Ordem da Rosa" e Flammarion recebeu das mãos do rei e da rainha da Roménia o título de "Grande Oficial da Estrela da Roménia". O primeiro contacto de Flammarion com a doutrina dos espíritos deu-se numa livraria, onde ele teve acesso a "O Livro dos Espíritos" (1861). Ao folhear o livro o astrónomo constatou que ele tratava, entre outros, do assunto do livro que ele estava escrevendo: Pluralidade dos Mundos Habitados. O que mais o intrigava é que a origem das informações esta atribuída a espíritos, o que ele resolveu verificar. Procurou Allan Kardec e passou a assistir as reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, onde exercitava-se semanalmente na "escrita automática" juntamente com outros médiuns, entre eles, o jovem Theóphile Gautier. Na Sociedade ele obteve diversas mensagens assinadas por Galileu, algumas das quais Kardec inseriu em "A Génese". Flammarion frequentou, também, as sessões de uma médium de efeitos físicos, Mme. Huet, onde também iam pessoas famosas como Victorien Sardou e o livreiro Didier. Em suas memórias ele registra que viu a mesa erguer-se inteiramente, sem causa aparente. Observou ditados que "não podem ser explicados por actos voluntários das pessoas presentes". (FLAMMARION, 1911. p. 225) Suas publicações foram sendo resenhadas por Kardec na "Revue", geralmente bem acolhidas e elogiadas por ele. A impressão que Flammarion transmite ao leitor em sua biografia é a de uma certa predilecção de Kardec por ele. Na página 239 de suas Memórias ele transcreve uma carta de um espírita que houvera assistido a uma das conferências do codificador em Bordeaux onde Kardec teria feito elogios públicos a um jovem de pouco mais de dezoito anos (que seria ele próprio). Outro facto que marca o apreço de Kardec é o convite feito pelo Comité Central da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, com o endosso da Sra. Allan Kardec para que Flammarion fizesse um discurso junto ao túmulo do codificador.
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