|
|
*O diretor como autor no cinema
Cinema é arte e indústria. Podemos quebrar indústria em
técnica e mercado. Como no Brasil o mercado para nossos
filmes ainda está fora do alcance de muitos cineastas, um
binômio mais adequado para nossa realidade seria afirmar
que, aqui, cinema é arte e técnica.
O papel do diretor se insere nestes dois campos. O diretor
veio ganhando destaque ao longo dos últimos cinqüenta anos
como o "autor" do filme18. Uma vez que os equipamentos de
cinema começaram a sair das mãos dos estúdios e chegar ao
alcance de cineastas independentes, ali pelos anos 50,
instituiu-se a figura do diretor como autor dos filmes.
Acredito, porém, que sempre houve o desejo de ser autor de
um filme em seus realizadores. Méliés era um autor
aventuresco de suas peripécias à Lua. Frank Capra e Orson
Welles foram autores extraordinários. Para viabilizar suas
produções, todavia, eles precisavam contar com a estrutura
dos estúdios. Uma estrutura industrial.
Como convém a uma indústria, uma engrenagem não deve girar
muito diferente da outra. E a produção deve ser constante.
Tanto em quantidade quanto em qualidade. Assim, um sistema
de produção em massa visa uma uniformização "daquilo que
sai". Sejam carros ou filmes. Mesmo que os filmes motivem
muito mais a nossa alma do que os carros19.
Neste ponto, os cineastas independentes franceses dos anos
50 em diante (os fundadores da Nouvelle Vague) firmaram sua
identidade como autores. Em especial François Truffaut20,
ainda crítico de cinema da Cahiers du Cinéma, desancou a
"tradição de qualidade" da cinematografia francesa no artigo
|
|
|
|
|
|
Reza a lenda que uma das brigas do WGA com Alfred Hitchcock é que ele ganhou o direito
de assinar seus filmes por realizá-los de uma maneira única. Para ódio dos roteiristas que
recebiam um crédito menor. Até então era norma citar o roteirista e o diretor como os autores
do filme. quer dizer, quando o mais importante não era o produtor mesmo! Após Hitchcock,
qualquer diretor de meia tigela passou a assinar o filme como "seu", tirando os roteiristas da
ribalta.
19Pense bem: quando foi a última vez que você viu um fusca saindo de fábrica com cinco
rodas ou lilás com bolinhas verdes? Não adianta, não cabe na produção industrial. Precisa
ser feito de outra forma.
20Nesta época, Truffaut afirmava ser o diretor o principal responsável por um filme e que a
sua visão social / política / cultural / etc. permeava toda a obra e assim é que deveria ser.
Nada mais de filmes pasteurizados pela grande indústria!
|
|
|