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Trabalho final de direção / Roberto Tietzmann - p.7

"Uma certa tendência do cinema francês"21, publicado em janeiro de 1954.

Zarpando para seus próprios filmes, estes independentes provaram ao mundo que é possível fazê-lo. Sem o mesmo orçamento, aliás, sem nenhum orçamento! Mas com muita coisa a dizer22.

O próprio Truffaut oferece uma divertida visão do papel do diretor em seu (maravilhoso) filme "A Noite Americana". Ele diz que o "diretor é alguém que responde perguntas o tempo inteiro, de todas as pessoas. Ele algumas vezes tem a resposta, mas nem sempre".

Esta visão cotidiana do papel do diretor é uma boa baliza para começarmos a considerar seu papel como autor. Ora, por que as pessoas perguntam ao diretor? Porque esperam que ele saiba uma resposta. Porque delegam a ele (ou ela) uma tomada de decisão sobre aspectos artísticos ou funcionais. Esperam que o diretor tenha uma visão formada do filme e saiba escolher e adaptar-se ao dia a dia da filmagem.

Esta visão é a visão artística a respeito do filme. Abrange desde o que ele deseja falar, comunicar com o público, até como atingirá isso através dos atores, do ritmo das cenas, de enquadramentos e objetos em cena, etc. Em meio ao caos organizado que é uma filmagem, alguém precisa saber onde as coisas estão indo. Em geral, espera-se que esta pessoa seja o diretor23. Outras pessoas em posição de comando, como o diretor de fotografia e os assistentes de direção também devem ter uma visão formada do filme, ainda que compartilhada com o diretor.

Fazer um filme é tomar um sem-número de decisões. Todas elas fazem diferença no produto final, acredite. Portanto, a primeira coisa a se fazer quando se quer fazer um filme é

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As raízes deste movimento vêm de alguns anos antes. Em 1948, Alexandre Astruc criou o termo "câmera-caneta" em um famoso artigo. Com isto, pretendia aproximar o fazer de um filme de um ato de expressão autoral, como a redação de um livro ou a pintura de um quadro.
22O outro lado da moeda é que essa tendência autoral se exacerbou em muitos casos, gerando filmes que somente diziam respeito ao autor e seu umbigo. Um filme que dispensa a platéia e seu interesse, que pode ser passado para uma sala vazia sem que isso faça a menor diferença, é um mau filme. Pelo menos pela minha cartilha.
23Em "Bullets Over Broadway", Woody Allen nos mostra a engraçada história de um autor teatral que consegue o dinheiro da máfia para fazer sua peça. Só que tem de engolir a namorada do chefão como atriz principal e um pistoleiro como supervisor o tempo inteiro. Durante os ensaios, o pistoleiro dá mais palpites acertados na peça que o próprio diretor (para os lamentos deste).

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