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"Uma certa tendência do cinema francês"21, publicado em
janeiro de 1954.
Zarpando para seus próprios filmes, estes independentes
provaram ao mundo que é possível fazê-lo. Sem o mesmo
orçamento, aliás, sem nenhum orçamento! Mas com muita coisa
a dizer22.
O próprio Truffaut oferece uma divertida visão do papel do
diretor em seu (maravilhoso) filme "A Noite Americana". Ele
diz que o "diretor é alguém que responde perguntas o tempo
inteiro, de todas as pessoas. Ele algumas vezes tem a
resposta, mas nem sempre".
Esta visão cotidiana do papel do diretor é uma boa baliza
para começarmos a considerar seu papel como autor. Ora, por
que as pessoas perguntam ao diretor? Porque esperam que ele
saiba uma resposta. Porque delegam a ele (ou ela) uma tomada
de decisão sobre aspectos artísticos ou funcionais. Esperam
que o diretor tenha uma visão formada do filme e saiba
escolher e adaptar-se ao dia a dia da filmagem.
Esta visão é a visão artística a respeito do filme. Abrange
desde o que ele deseja falar, comunicar com o público, até
como atingirá isso através dos atores, do ritmo das cenas,
de enquadramentos e objetos em cena, etc. Em meio ao caos
organizado que é uma filmagem, alguém precisa saber onde as
coisas estão indo. Em geral, espera-se que esta pessoa seja
o diretor23. Outras pessoas em posição de comando, como o
diretor de fotografia e os assistentes de direção também
devem ter uma visão formada do filme, ainda que
compartilhada com o diretor.
Fazer um filme é tomar um sem-número de decisões. Todas elas
fazem diferença no produto final, acredite. Portanto, a
primeira coisa a se fazer quando se quer fazer um filme é
As raízes deste movimento vêm de alguns anos antes. Em 1948, Alexandre Astruc criou o
termo "câmera-caneta" em um famoso artigo. Com isto, pretendia aproximar o fazer de um
filme de um ato de expressão autoral, como a redação de um livro ou a pintura de um
quadro.
22O outro lado da moeda é que essa tendência autoral se exacerbou em muitos casos,
gerando filmes que somente diziam respeito ao autor e seu umbigo. Um filme que dispensa a
platéia e seu interesse, que pode ser passado para uma sala vazia sem que isso faça a menor
diferença, é um mau filme. Pelo menos pela minha cartilha.
23Em "Bullets Over Broadway", Woody Allen nos mostra a engraçada história de um autor
teatral que consegue o dinheiro da máfia para fazer sua peça. Só que tem de engolir a
namorada do chefão como atriz principal e um pistoleiro como supervisor o tempo inteiro.
Durante os ensaios, o pistoleiro dá mais palpites acertados na peça que o próprio diretor
(para os lamentos deste).
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