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Trabalho final de direção / Roberto Tietzmann - p.8

saber COMO se quer que esse filme SEJA. O que ele vai mostrar e ONDE você quer chegar24.

Como o cinema também é uma arte laboriosa25, a visão do diretor se traduzirá em algo que pode ser captado pela câmera. Portanto, algo que deve comunicar-se com as mentes e os corações do elenco e da equipe. Mas também ser viável com as máquinas e equipamentos disponíveis. O diretor também deve agregar um conhecimento técnico para pelo menos saber das possibilidades/impossibilidades de realizar determinada cena.

Além disto, a câmera é um ser caprichoso. Finge que olha o mundo com os mesmos olhos que os nossos. Mas na verdade enxega o mundo à sua maneira. O recorte da realidade que a câmera enxerga nos traz um outro problema: o de articular a expressão coerentemente com imagens com um artefato que nos põe com um símile do real, mas destacado da realidade o suficiente para poder ser usado a serviço da história.

Um bom diretor deve saber pensar pelo olho da câmera. Enxergar a história a ser contada como um gestalt, mas decompô-la pedacinho a pedacinho através das lentes. E orientar os atores nesse processo. E orientar a equipe. Além de várias outras responsabilidades.

O diretor também tem imbuído em sua função as tarefas de liderança e motivação na equipe. Ele precisa, antes de mais ninguém no set de filmagem, acreditar no filme e em sua viabilidade. Acreditar na história e dar o exemplo de comprometimento com o trabalho para todos da equipe26. O diretor simplesmente não pode se omitir. Botar a cabeça no buraco do chão e fingir-se de avestruz. Ele é responsável pelo filme e por sua qualidade, logo é seu interesse que tudo ande na direção correta27.

É importante, então, definir bem o papel do diretor como autor. Ele é (ou deveria ser) o autor da integridade artística do filme, guiando as decisões a serem tomadas durante todo o processo com uma visão bem definida que se espera que ele tenha.

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E não sou apenas eu dizendo isso. Martin Scorsese diz algo parecido em uma edição da revista "Premiere" francesa de janeiro de 1998.
25E aquele batalhão de gente nas legendas não está ali por acaso!
26Ainda mais quando não rola grana. As pessoas -mesmo os ultraprofissionais- reagem melhor quando sentem que há um comprometimento da equipe com o filme e que as pessoas estão motivadas com aquilo que está acontecendo.
27Sob a pena de entregar a direção para Allan Smithee, o nome que assina a direção dos filmes desastrados!

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