Posição contra os MaKBeTh
por Eduardo Dutra Aydos
O verdadeiro intelectual, quando não sucumbe ao dogmatismo sectário, ou quando não se domestica ao Poder pela covardia, é um ser eternamente abominado e perseguido por todos os tipos de espírito totalitário. Sua vocação torna-se seu estigma; seu estigma sua excreção. Seu crime, o da não entrega total da liberdade a um Partido ou a um Estado dominado pelo espírito totalitário. [XAUSA, Leônidas: Oração do Paraninfo, 1966] |
Reservei, para esse afrontamento, a necessidade de resgatar aquilo que, afinal, tem sido uma promessa, que ainda considero parcialmente insatisfeita, ao longo desse percurso: uma reflexão substantiva sobre a indissociável fundamentação ética do paradigma sintético. Encontrei-a em duas áreas ainda pouco exploradas pela ciência política contemporânea: o estudo da formação da consciência moral e o estudo da construção da personalidade social.
Pretendo nisso, experimentar - como um elogio ao maior filósofo - as implicações do método socrático na abordagem da política-ação. Quero reencontrar-me, por outro lado, na lição magistral de Harold LASSWELL Nota 1, que teve o descortino de abordar o fenômeno político pelo estudo daquilo que nele, pela suas conseqüências e pela sua reiteração ao longo do tempo, seja provavelmente o seu aspecto mais importante e mais tenebroso: a sua patologia. E, nesse sentido, o diálogo com FREUD é um ponto de partida e de passagem obrigatório.
No ponto de partida, a política democrática confronta-se, inexoravelmente, com os obstáculos e as resistências que a auto-realização do ser humano encontra na sociedade em que vive. Mas, embora se reconheça com Freud que civilização é repressão, a razão de ser do processo civilizatório, é a superação dessas assimetrias e dependências, que têm reprimido o desejo de auto-realização, pela imposição da tirania das idades primevas, quando a humanidade submeteu-se à disciplina dos seus pais primordiais, premida pela necessidade de assegurar-se as condições de sua própria sobrevivência.
No ponto de passagem, no entanto, a possibilidade de superar as contingências que assim estreitam o campo da liberdade, é o fermento da autoconsciência da Humanidade. E, como auto-reflexão comunicativa, marca o sentido de sua presença na história, o que, paradoxalmente, permite afirmar que civilização é liberdade.
Notas:
1. LASSWELL, Harold: PSYCHO-PATHOLOGY AND POLITICS. (Retorna ao texto)