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 Por Leocádia Costa
 
 
     Realmente, a sensação de estar assistindo a uma das produções da Rede Globo, acontece assim que você vê a figura de Paulo Betti e Malu Mader, no cartaz do cinema. Mas nada é  mais irritante do que assistir a sessão com cerca de cincoenta crianças enlouquecidas pelo passeio. A corrida  dos colégios aos cinemas para assistir Mauá - explica que cinema também ajuda a contar a história do Brasil, só que nesse caso com muita fantasia. 
     Sérgio Resende conseguiu mais uma vez realizar um filme histórico com todas os ingredientes necessários. Juntou uma figura representativa do país e uma megaprodução para pobres tupiniquins . Em filmes anteriores,  já havia  provado sua fascinação por  figuras de destaque do Brasil: em “O Homem da Capa Preta” (ressaltou Tenório Cavalcanti), em “Lamarca” (mostrou o capitão guerrilheiro) e em “Guerra de Canudos” (reconstituiu a pregação de Antônio Conselheiro, algo semelhante aos discursos de Padre Marcelo; só que sem os recursos da televisão).  
     Em “Mauá- o Imperador e Rei”, temos uma maravilhosa reconstituição de época do Brasil e da Inglaterra do século XIX. Os personagens que ajudam a contar a história desse menino gaúcho e sua trajetória política no Rio de Janeiro, são inventados. O personagem de Paulo Betti- Sr. Irineu Evangelista de Souza (1813-1889)- aparece como uma boa pessoa, representante da modernização e do crescimento do país. Mas, certas atitudes pouco dignas passam desapercebidas. Além disso, Mauá trata-se de um capitalista, banqueiro e empresário que queria ver o final da oligarquia rural. Tanto o roteiro, como a representação da  elite brasileira são falhas presentes no longa. Malu Mader está bem, mas sua atuação em Força de um Desejo é mais convincente. 
     Lançado nacionalmente no RS, em pleno Festival de Gramado, por razões óbvias ,  Mauá não concorreu a nenhuma categoria, mas foi o destaque do Festival. Como se não bastasse essa superprodução, somou cerca de R$ 6 milhões de reais e está trazendo para o diretor uma grande dor de cabeça. Trata-se da velha e delicada história entre cinema e literatura. Antes do lançamento do filme, havia sido escrito um livro biográfico “Mauá, empresário do Império, de Jorge Caldeira”. Pois bem, o escritor acusa o diretor de plágio e o diretor acusa o escritor de calúnia, nada mais fantástico em tempos de real; tinha que ser  no Brasil...     

(Mauá- o Imperador e o Rei , Sérgio Resende, 1999, 136 min, DR)

 
     POR TRÁS DO PANO
     A revelação do que poderia ser o filme  Por trás do Pano, começou num dos melhores eventos relacionados ao cinema do país: O Festival de Gramado. Na  tela, o filme de Luis Villaça, conseguiu dois prêmios: o Prêmio do Jurí Popular e o Kikito de melhor atriz para Denise Fraga. Além de proporcionar ao público uma bela e surpreendente história.  
     Dizem por aí , que o roteiro foi reescrito mais de treze vezes (número um tanto dualístico) até que os diálogos despretensiosos fossem ditos de maneira informal, natural. As filmagens aconteceram em 24 dias, a la fast-food. O roteiro foi escrito em parceria com o dramaturgo Flávio de Souza. 
     O filme apresenta uma narrativa bem-humorada de um ambiente de ensaios para uma peça teatral. É uma comédia para todos os públicos assistirem.  Desde o primeiro dia, vemos os ensaios para “O quarto de Macbeth”. Os personagens envolvidos nesse clima naturalista, são retratados por artistas  conhecidos do grande público. A sensação de vermos televisão no cinema é cada vez maior e inevitável.  
      Luís Mello ( um ator com formação  teatral e que  emocionou Porto Alegre com Nijinsky) é Sérgio, também um  ator consagrado, e um diretor cheio de pose. Casado com Marisa Orth ( carimbada infelizmente como Magda- do Sai de Baixo) é uma arquiteta, ciumenta  que arma barracos intermináveis com Alexandra (Ester Góes), ex-mulher de Sérgio. Apesar de ser considerada no filme uma mulher linda mas, insegura.    
     Denise Fraga ( excelente atriz cômica - TV PIRATA, ZORRA TOTAL, COMÉDIAS DA VIDA PRIVADA, entre outros)  é Helena uma atriz ainda desconhecida, mas que almeja a fama.  Helena,  forma um casal  moderninho com Pedro Cardoso- aqui César ( o nosso Woddy Allen Brasileiro), eles discutem situações que a maioria dos casais fogem: ciúmes, inseguranças, futuro. 
     Suas vidas correm dentro e fora dos palcos como é de se esperar. O ambiente melodramático de Shakespeare, consegue mais uma vez trazer as telas do cinema, um enredo que mistura os amores aos dramas cotidianos.  
     No palco vislumbramos a magia do teatro, as crises, a falta de criatividade, a dificuldade de criarmos algo diferente, algo muitas vezes inimagináveis para o grande público. A angústia de Helena, a intranqüilidade da vida de Sérgio, parecem confrontar gerações que muitas vezes optam por acomodar-se.   
     A noção de que artistas não são criaturas normais, desaba por completo. Quem ainda se gaba ( ato bem comum aqui no Sul) por ser um ator ou diretor- seres evoluídos-  acaba enjoado com o filme.    
     Por trás do Pano, deixa certo que Luis Villaça entende dos bastidores do teatro e principalmente dos artistas. Nada é mera coincidência. Talvez o roteiro seja semelhante a sua  vida real... Afinal de contas, diretores, atores e atrizes são pessoas normais que se relacionam, certo? 

( Por trás do Pano, Luis Villaça, 90 min, cor, Brasil)

 
       VEJA ESTA CANÇÃO
     Pela dificuldade de comercialização dos curtas nacionais, estes geralmente são reunidos em uma fita por tratarem da mesma temática sob ângulos diferenciados. Esse foi o caso de a Felicidade é....No caso de Veja essa Canção, Cacá Diegues organizou os curtas através de músicas nacionalmente e internacionalmente divulgadas. 
  Esse filme é Pura MPB , destacando “Samba do grande amor”de Chico Buarque,  “ Pisada de Elefante”de Ben Jor, “ Drão” de Gilberto Gil e “Você é Linda” de Caetano Veloso. Os nomes das músicas são os títulos de cada curta que  possuem formas de linguagem extremamente diferentes.   
       A   traição, o casamento, a criminalidade e a terceira idade brilham em meio a atuações de Carla Alexandra, Pedro Cardoso, Débora Bloch, Cassiano Carneiro, Fernanda Montenegro entre outros que dispensam apresentações. Como se não bastasse o elenco os  cuidados com a coreografia, fotografia, roteiro e argumento, envolvem nomes de referência, tais como: Débora Colker (do espetáculo de dança maravilhoso: Casa), José Guerra ( diretor de fotografia renomado), Alexandre Fonseca (Comédias da Vida Privada- roteirista de primeira casadíssimo com a escritora e também roteirista Fernanda Young), Walter Lima Jr ( diretor de “A Ostra e o Vento”) e o gauchíssimo Nélson Nadotti ( presente em minisséries e produções do sul com a turma conceituadíssima da Casa de Cinema- excelente roteirista). 
       Destaque principal para os monólogos de “Drão” e as locações  maravilhosas da cidade  do Rio de Janeiro. Sem esquecer que em “Você é Linda”, o estilo Cinema Novo, apresenta retratos de gente e lembra os retratos do povo no carnaval, tema fotográfico do livro de Arthur Omar- A face gloriosa. E, ainda no curta  “Samba do grande amor” concordamos que  os artistas tem asas...  
       Veja essa canção, escute essas canções. Aproveite para ampliar seus conhecimentos da filmografia nacional, afinal esse filme é feito pelo mesmo diretor de Orfeu ( ao que tudo indica nosso concorrente ao Oscar de melhor filme estrangeiro para 2000, por enquanto).  Embarque nessa viagem somente pelo apelo musical e bata de frente com um país ainda chamado Brazil 

(Veja  essa Canção... ,diretor: Cacá Diegues, 1994, 114 min, DR)

 
Nós que aqui estamos por vós esperamos 
 
     O público interessado em documentários é restrito, se comparado aos espectadores que procuram os cinemas atrás de entretenimento. Exceções a regra como o projeto Nós que aqui estamos por vós esperamos deixam o fantasioso e lucrativo projeto da Bruxa de Blair no chinelo e tem convocado os interessados a irem até ao cinema, prestigiarem o filme. 
     Assistido por um público bem superior a 11 mil espectadores, foi ganhador do Festival de Cinema do Uruguai, do 3 festival de Cinema do Recife com os prêmios de melhor filme, roteiro e montagem e papou a competição do 4 Festival Internacional de Documentários intitulado É tudo verdade entre 81 documentários.  
     Seu criador é também o mentor do Festival de Um minuto, que por algum tempo promoveu nomes de vídeo-makers e cineastas em geral: Marcelo Masagão que  mergulhou durante três anos no seu filme-memória. Apesar de ser um documentário muitos especialistas tiveram dificuldade em definir a qual gênero ele pertence. Tudo isso graças ao projeto de pesquisa fruto de uma bolsa de estudos da Fundação McArthur, que investiu na realização e produção de um CD-rom sobre o século XX. O resultado final foi um longa metragem, que constrói  um ensaio a partir da história de pessoas famosas e não famosas, reais ou fictícias, do século XX.  
     Com uma trilha sonora cuidadosa e emocionante realizada por Wim Mertens vemos discorrer uma discussão visual sobre a banalização da morte durante o nosso século. A partir de imagens de televisão, arquivos de emissoras, fotografias antigas, filmes e cenas inesquecíveis de dança ( com Fred Astaire, entre outros), além de um resgate do filme Powaaqatsi  é montada uma colcha de retalhos. Ali são colocadas como as linhas que unem essas imagens: as palavras, os fatos históricos, a ficção de indivíduos e personalidades que viveram em épocas distintas e foram atores da história mundial. 
      Contrariando a birra de alguns diretores quanto a utilização de equipamentos baratos e pouco convencionais, Masagão faz questão de afirmar que a questão técnica jamais deve interferir no filme. Ao invés de tanta preocupação com os efeitos, tipos de edição e sistemas, os cineastas devem se preocupar com o que dizer e como dizer, ou seja, com o roteiro.  
      Para os que concordam com ele, esse pode ser um caminho de experimentações e de busca por melhores roteiristas no cinema nacional. Para os mais atentos, fica a mensagem direcionada aos novos cineastas:  produzam a exemplo de Marcelo Masagão, afinal  Nós que aqui estamos vós esperamos.... 

(Nós que aqui estamos por vós esperamos, Marcelo Masagão, 73 min, doc, 1999) 

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