Repleto de romance e lirismo , La Vita é Bella é uma tragi-comédia que, como em O Grande Ditador, de Chaplin, retrata de uma maneira abrandada o horror do fascismo. Só por isto já lhe valeria o mérito. Mas há muito mais. Benigni (ok, concordo, um chato de galocha) deu o toque perfeito para fazer do filme uma pérola sobre o assunto. Aliás, para os desinformados, foi o próprio quem escreveu, dirigiu e atuou neste que há de ser seu maior marco no cinema, mesmo porque não vamos conseguir vê-lo mais uma vez comemorando um Oscar. A narrativa é divida em duas partes (a primeira mostra as desventuras e hilárias acrobacias do protagonista, sendo a segunda bem mais pesada, retratando a luta de um pai para proteger a inocência de seu filho em tempos de holocausto) e pode até chegar a cansar os menos pacientes, mas de nenhuma maneira perde o brilho. Àqueles que não se deixam abalar por miudezas, acabam agraciados com um exercício de poesia onde para se passar da nua e crua realidade dos judeus para o puro e belo mundo do faz-de-conta basta estalar os dedos e inventar uma história. Nada mais simples que isso. Vale dar um destaque todo especial para Giorgio Cantarini, o doce e inocente Giosue. Ele quase rouba a cena e, de brinde, ainda desperta na platéia uma avalanche de emoções e dá talvez uma das mais embriagadoras dimensôes do holocausto: horror, horror, horror!!! |
A primeira parte do filme é, praticamente, um filme dos Trapalhões. Brega, chato e com um humor pastelão que causa bocejos em vez de gargalhadas. A impressão que se tem é que Luma de Oliveira entrará em cena a qualquer momento, ou que Sandy & Júnior iniciarão a entonar a música-tema (que, justiça seja feita, é a melhor parte do filme) a cada cena que tenta ser mais comovente. Quando a segunda metade do filme começa, a coisa começa a melhorar (um pouco, não iludamo-nos). O ator-mirim que encarna o filho de Benigni faz o tipo de criancinha-adorável-e-meiga-que-comove-a-platéia e realmente cativa o público. É neste momento da narrativa, aliás, que situam-se as cenas mais engraçadas do filme, oriundas das tentativas do personagem central de preservar o filho das desgraças que acontecem a sua volta. Os momentos engraçados, no entanto, são tão poucos que não chegam a salvar o filme daquela incômoda sensação de que ele foi feito para agradar a América do Norte. A cena em que o soldado americano sai do tanque de guerra para salvar o menino dos alemães é sintomática: só faltava ser vivido por Tom Hanks. E, uma vez que a realidade de um país conta menos na hora de se contabilizar votos na Academia, na próxima vez quem sabe se inscrevessemos Simão, o fantasma Trapalhão não teríamos mais sorte? |