“ Não gosto de chegar, só
de partir.
O ‘estar em movimento’ é
o que me importa.”
Win Wenders
Uma amiga
, em meados de 1989, viu o filme aqui em Porto Alegre e me contou extasiada
a visão dos Anjos da Guarda. Após assistir tentei, então
cometer uma façanha: convencer uns amigos que a filmografia
de Win Wenders tem seu devido valor.
Em
Asas do Desejo, a cidade de Berlim é revista por um diretor
que esteve ausente de seu paradeiro habitual por muitos anos. O espectador
adere a uma viagem do próprio WW que não consegue explicar
o que faz com que alguém seja alemão. O estranho é
que os anjos vieram depois dessa indagação. Ao reler Rilke,
WW deu-se conta que tudo o que havia sido escrito estava povoado por anjos.
Eles estavam presentes e tudo começou a acontecer a partir do seu
ponto de vista ( encontros, ponto de vista da câmera, situações,
etc).
Para
nós “brasileiros”, cheios de misticismo é um prato cheio.
Poderia levar a assinatura de Mônica Buonfligio. Anjos que
observam uma Berlim cinzenta, pós-guerra, pós-muro. Anjos
humanos na forma, distanciados das futilidades cotidianas. Movimentam as
ações dos humanos - nós. Por vezes, se comunicam
em momentos de extrema cumplicidade, trocam olhares com as crianças.
O surrealismo aparece na visão P&B do nosso mundo “ a graça
e a desgraça” que somente os homens visualizam a cores. A cidade
e a vida só ganham cor quando o amor entra em cena,
através de uma trapezista. O filme não é leve, descontraído
e tão pouco reprisa imagens vistas em outras produções
semelhantes. Traz uma linguagem cadenciada, lenta com longas seqüências.
Voôs de trapézio junto a frases-indagações-dialéticas
que atordoam. O tom melancólico remete a pensamentos do inconsciente.
WWenders
- é autor e diretor entre outros de “Alice nas Cidades”, “O
Estado das Coisas”,“Asas do Desejo”, “Tão Longe Tão Perto”,
“No Decorrer do Tempo”, “Paris, Texas”, e “Até o Fim do Mundo”,
mexendo num universo onírico e contemporâneo cheio de características
universais. A monotonia que leva alguns espectadores ao sono, contrasta
com a obviedade das produções contemporâneas, tais
como “Noiva em Fuga”, por exemplo.
WWenders
é polêmica na dose certa. A grande maioria das pessoas
busca entender seus roteiros. Resumem “Asas do Desejo” como um novo remédio
para insônia. Mas, sejamos otimistas, se você é curioso
e sensível, corra para locadora e ao menos seja corajoso e
assista aos 128 minutos de filme. Se quiserem outra dica vejam também
“Tão Longe, tão perto”, uma espécie de continuação
de Asas do Desejo. Gozem o lirismo de WWenders em cápsulas contemporâneas,
de asas abertas, é claro!
( Wings of desire, 128 min, DR,
1987 -elenco: Bruno Ganz, Otto Sander, Peter Falk - direção:
Win Wenders)
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