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Por Leocádia Costa
                       
     “... Rios de prata piratas, vôo sideral na mata, o universo paralelo,   Sítio do Pica-pau amarelo....” 
                                                                                                          (Gilberto Gil)

      Apesar do mês de outubro já ter ficado para trás, ao pensar em televisão lembro sempre da primeira série que assisti: o mundo fantástico de Monteiro Lobato, nos episódios do Sitio do Pica-pau Amarelo.
     Morando na cidade, travei meu contato inicial com a vida mais sossegada e cheia de mistérios de Monteiro Lobato, através da tv. Assistia aos personagens irmãos mais velhos (Pedrinho e Narizinho), para mim pessoas reais ; ouvia as estórias de Dona Benta ( a Vovó virtual) e tinha como amigos a Emília e o Visconde de Sabugosa. Nossa gula de criança, era saciada pela Tia Anastácia e sempre conhecíamos outros amigos que eram convidados pelas crianças a ingressarem na fantasia ( o Príncipe do Lago, o Marquês de Rabicó, entre outros). 
     Vale a pena lembrar, que naquela época  a preocupação com a formação infantil- pedagógica e principalmente literária das crianças era bem diferente de hoje. Por sorte nossa, não existiam Xuxas, Elianas e tão pouco Angélicas. O Sítio mexia com o imaginário infantil e nos levava para mundos que jamais poderíamos pensar existir. 
     Seu lançamento  na televisão aconteceu em 1950, pela TV TUPI, mas tornou-se mais popular quando a Rede Globo incorporou sua produção. Foram 10 anos de episódios (1973-1983),  alguns em co-produção com a TVE..   
     Alguns episódios ficaram marcados na retina, tais como: “ O Curupira”, “O Barba Azul”, “Emília, Romeu e Julieta” e o “O Rapto do Rabicó”. Emília quase sempre se metia em confusão e, a atriz que mais sucesso fez interpretando-a foi Dirce Migliaccio ( que mais tarde fez a novela A Gata Comeu, no papel de mulher do safado que tomava leitinho, lembram?). O Visconde de Sabugosa, na pele de André Valli, tinha dotes intelectuais e ao meu ver fazia as vezes de um professor sábio. Já Dona Benta, hoje aos 82 anos, era Zilka Salaberry e continuou fazendo novelas na Rede Globo, sua última participação recente foi em um episódio do Você Decide . Narizinho teve mais de uma atriz em seu papel, mas a interpretação de Rosana Garcia, na primeira versão exibida, é a melhor. Pedrinho nunca teve muita expressão, há alguns meses atrás apareceu no Vídeo Show e ao que tudo indica não fez mais televisão. Tia Anastácia partiu para o lado de lá, faleceu ( confesso que chorei ao saber). 
     Para quem pensa que estou me esquecendo da Cuca, um aviso: seu personagem simbolizava o mal mas, arrancava boas risadas, já que quase sempre acabava na pior. Lembro que nunca tive medo dela, mas sim da figura do Minotauro e seus labirintos, metade homem, metade touro. Nossos primeiros contatos com a mitologia. Viram, televisão era cultura.... 
    Outra curiosidade é que o Sitio do Pica-pau Amarelo, provocou uma proliferação de livros, programas de tv e brinquedos. Monteiro Lobato era lido pelos que tinham dificuldades em Matemática,  devoradores da Aritmética da Emília. Já os programas de tv, por exemplo “Pirlimpimpim” (1982), trazia entre seus personagens a Emília, aliás muito doida, interpretada por nada menos que Baby Consuelo.  Quanto aos brinquedos, estavam em posição de destaque,  as bonecas e as roupas de carnaval da Emília, além dos jogos, quebras-cabeças com a marca “Sítio” que enchiam as prateleiras e povoavam os sonhos de meninas e meninos.
     Recentemente, li que a Rede Globo comprou os direitos das obras infantis do Monteiro Lobato. A intenção é trazer para 2001 a série e recriar de maneira mais atualizada o universo de Lobato. É claro que as atrizes e atores não serão os mesmos. Trata-se de uma tarefa árdua tentar manter o espírito da obra e o toque de imaginação para crianças, que hoje gostam de assistir Flora Encantada e Planeta Xuxa.
     Mas, Monteiro Lobato continua por aí. Presente em exposições que recriam seu universo, em festas do ridículo onde sempre achamos uma Emília, nas lendas e mitologias. E principalmente nos corações de cada adulto que, nos anos 70 e 80, dedicavam um pouco do seu tempo para exercitarem, mesmo sem saber, sua imaginação mergulhados nos episódios que agora são apenas boas recordações. Ai, que saudade!

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